Antes da mudança

Imagine uma empresa tradicional, de mais de 20 anos, hierárquica, burocrática, com muitas áreas, a média de tempo de casa é maior do que 10 anos. Imagine também que o sistema disponibilizado ao cliente é um grande monolito, um backlog leva cerca de 6 meses pra chegar à produção, o processo todo tem diversos gargalos.

Apesar das dificuldades, novos produtos são colocados no mercado com sucesso, o relacionamento com os clientes é ótimo. A concorrência não é tão forte então a ideia de que está tudo bem permanece. O esforço pra entregar software é alto mas, mal ou bem, no final das contas dá tudo certo, e parece que todos se satisfazem com o resultado.

Por conta dessa sensação de estabilidade, existe uma alta resistência à mudança. Iniciativas de inovação ocorrem, é verdade, mas normalmente não recebem a atenção necessária. Muitos empecilhos aparecem para a adoção, multiplicados à complexidade e ao custo e ao risco e a não sei mais o quê. Afinal, “em time que está ganhando não se mexe”.

Não mais que de repente, ameaças começam a surgir: startups que focam na fatia de mercado negligenciada, tecnologias disruptivas que prometem derrubar a tecnologia dominante, modelos de negócio que põem em risco os modelos já estabelecidos, empresas maiores interessadas em aquisição para aumentar o market share. Todos são surpreendidos.

É preciso reagir, mas parece que a empresa perdeu a habilidade de responder rápido. Todo mundo trabalha a tanto tempo da mesma forma, e com um efeito positivo, que é difícil até reconhecer o que pode estar errado. Talvez o mais fácil seja apontar os culpados em outras áreas, na esperança de proteger os seus. Frente à nova perspectiva, negação.

A realidade vai se desenhando aos poucos, os riscos cada vez mais iminentes, e a empresa ainda sem se adequar. A cultura é muito forte, e não se muda de uma hora pra outra. Mesmo com sinalizações claras de que é preciso fazer algo o quanto antes, prefere-se esperar um pouco mais, pra “ver no que vai dar”. Diante da necessidade de mudar, protelação.

Se você se identificou de algum modo com essa resumida história, por favor coloque suas impressões. É fato que ela poderia se desenrolar por caminhos distintos, mas acredito que todos apontariam para uma inevitável mudança corporativa, de um jeito ou de outro, você deve concordar. Vou parar por aqui, fiquemos com a imaginação do que vem depois 🙂

Colaboração

Resolvi fazer uma pausa na série de posts sobre ferramentas de testes para falar um pouco sobre colaboração. Esse assunto aparece cada vez mais nas empresas, mas ao mesmo tempo que vem como a solução de muitos problemas, não me parece ser bem compreendido, e por vezes parece assustar, e cria resistências.

Isso porque colaboração exige uma mudança de mentalidade, de comportamento, e a grande maioria das empresas brasileiras é muito hierarquizada, e dividida em silos. E isto faz com que geralmente as pessoas busquem se defender, mais do que se ajudarem. Pior ainda quando a ajuda é interpretada como ameaça.

Quando se colabora, de verdade, os muros deixam de existir. São construídas pontes. Todos entendem que estão no mesmo barco e, no fim, o que importa mesmo é o cliente, e só. Os problemas passam a ser de todos, qualquer um pode se envolver na solução. Ninguém espera demanda, todos trabalham para entregar valor.

Não é à toa que muitas empresas tem buscado criar uma cultura colaborativa. Normalmente, a colaboração é a saída para sobreviver, em mercados cada vez mais competitivos. Quando o negócio corre risco, a colaboração vem para agilizar processos, inovar, e até criar negócios novos, se reinventar, com o foco exclusivo no cliente.

Numa cultura colaborativa, os erros são encarados com normalidade, o aprendizado é estimulado, o conhecimento é compartilhado, a experiência é dividida. As pessoas podem ter suas especialidades, mas acabam evoluindo em outras disciplinas como consequência da integração com outras áreas. O potencial das pessoas é valorizado, e desenvolvido.

Não adianta ter a colaboração como valor da empresa, estampada em apresentações corporativas, se ela não é adotada na prática, não é vivida. Ela requer o compromisso individual, engajamento, e até proteção. A mudança de hábito não se obtém de um dia para o outro, é um processo, com alto e baixos, mas que precisa de disciplina, pra virar realidade.

O benefício claro da colaboração, além dos resultados nos negócios, é a motivação das pessoas, é a satisfação de fazer parte de um time que agrega valor ao cliente, é o propósito. Cada pessoa sabe a importância do seu trabalho, sabe que sua participação é fundamental para o resultado final. A colaboração empodera as pessoas, as torna mais felizes.

Estamos vivendo uma época em que a colaboração cresce exponencialmente na sociedade. Informação disseminada, redes sociais, economia compartilhada, o indivíduo saiu do anonimato para marcar presença no mundo, para mudar o mundo. As empresas precisam se ajustar à esse novo momento, ou ficarão pra trás.

A figura abaixo foi tirada do post do blog do Tanmay Vora que comenta um excelente post do Aaron Sachs e do Anupam Kundu, da ThoughtWorks, falando justamente da mudança de mentalidade necessária para a transformação das empresas, frente aos desafios atuais. Quanto à colaboração, eu destacaria “from hierarchies to networks” e “from controlling to empowering”.

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